Show do AC/DC em Bs As (06/12/09)

Posted by Anônimo On 13 de dez. de 2009 2 comentários

Conheço a banda AC/DC há anos, mas o show do último domingo em Buenos Aires foi uma grata experiência pra mim e minha esposa (Josi). Mesmo sabendo que 'Black Ice' foi o disco mais vendido do ano e que a turnê dos australianos só é menos lucrativa que a do U2 e Madonna, eu achei que seria apenas mais um grande show. Quanta ignorância (minha).

O AC/DC é uma das minhas bandas favoritas, mesmo que por vezes eu ache o seu som um tanto quanto simples, isso se compararmos a outras bandas de rock que eu também gosto: Led Zeppelin, Pink Floyd, The Doors, Deep Purple, Black Sabbath, etc. Mas o AC/DC ao vivo é uma coisa tão sensacional que eu fiquei completamente sem palavras...

Vou começar o meu relato do show pelo palco: enquanto outras bandas investem pesado em telões, imagens maravilhosas em 3D, etc, o AC/DC coloca uma locomotiva gigantesca soltando fogo e fumaça. Não é modo de dizer: era uma locomotiva gigante mesmo no palco logo na introdução do show, com 'Rock and Roll Train', do disco novo (Black Ice). A partir daí tu podes ter uma rápida noção do que viria a ser o show do AC/DC. Em 'Hells Bells', um sino enorme desce até o palco para que Brian Johnson pudesse pendurar-se introduzindo o início da música, novamente, há o impacto de uma coisa verdadeira, não de uma imagem em um telão. Em 'Whole Lotta Rosie', uma boneca inflável gigante monta no trem e faz uma homenagem às groupies gordinhas (sim, macho que é macho não liga se a mulher é gordinha). Sem esquecer, claro, os canhões em 'For Those About to Rock', explodindo a cada refrão como uma bomba de rock and roll (o clichê é intencional).

ACDC - Black Ice Tour

É tudo muito orgânico e verdadeiro. Não há bullshit, para usar uma expressão apropriada. Há tecnologia, sim, como luzes e telões de alta definição. Mas o principal ali é o som, perfeito e altíssimo, e o culto à guitarra e, por consequência (ou por intenção mesmo) a Angus Young. Ele não é apenas um cara que agita tanto quanto Mick Jagger (ou mais). Ele é um dos melhores guitarristas da atualidade (há 36 anos, diga-se de passagem). Eu achava que Angus era um bom guitarrista de blues rock, com riffs vigorosos e solos memoráveis. Mas ele é mais que isso: ele toca muito, muito mesmo. Toca rápido quando é preciso, abusa dos licks de blues na sua tradicional guitarra Gibson SG quando a música urge. E faz isso não apenas uma pequena parte do show: ele toca duas horas de solos incendiários (o clichê é intencional). Quando ele mostra os chifrinhos em 'Highway to Hell', dá para acreditar que o cara tem um pacto com o capeta. Em 'The Jack', ele faz um strip tease e, na hora de mostrar a bunda, revela uma cueca com o logotipo do AC/DC. Agora me diz uma coisa: quantos caras podem fazer isso num estádio com 70 mil pessoas sem serem apedrejados? Pois o público idolatra Angus. E com razão. O cara é demais!

Lembrando, claro, que Angus tem 54 anos. O cara corre com uma guitarra no ombro durante uma hora e meia batendo a perninha como Chuck Berry e balançando a cabeça. Tudo isso vestindo um terninho e gravata colegial. Após estar completamente encharcado de suor, ele ainda tira a camisa e faz isso por mais meia hora. Pra não deixar dúvidas, Angus ainda se joga no chão e roda sem parar. Lembrando que o cara vem fazendo isso a cada três dias. Nos últimos 36 anos.

Angus Young

E ainda tem o Malcolm Young, o irmão do Angus. Mas o que pouca gente sabe, ele é o "motor" da banda. Sim, ao contrário do que todo mundo pensa, ele é o principal compositor das músicas da banda, incluindo todos aqueles riffs de guitarra espetaculares, que deveriam ser ensinados às crianças desde o berçário. É ele quem arranja as canções e quem puxa as músicas durante as apresentações ao vivo.

Malcolm Young

O resto da banda vale apenas porque eles são do AC/DC. Cliff Williams é um baixista OK, assim como o baterista Phil Rudd (lembro que nos discos o Phil Rudd era tão limitado e sem criatividade que a gurizada chamava ele de 'Phil Ruim'.)

Quanto ao vocalista Brian Johnson, permita-me dedicar um parágrafo à parte. É um caso raríssimo de vocalista de banda de rock que não sofre de egolatria. Ele entrou na banda após a morte de Bon Scott, causada por uma overdose. Isso aconteceu em 1980, e até hoje chamam Brian de ‘o vocalista novo do AC/DC’. E o pior é que ele não parece estar nem aí pra isso. Ele não parece estar aí pra nada, inclusive para o seu próprio visual. Brian Johnson deve ser, de longe, o cara mais feio do rock. Ele ainda se veste como um caminhoneiro de quinta categoria, com um bonezinho ridículo e uma camisa com as mangas cortadas. Sua voz é tão esganiçada que não sei nem se podemos chamar de voz. E, no entanto, ele é perfeito para o AC/DC. Ele é tosco e verdadeiro; ele é autêntico e fala a linguagem de seu público. Ele é popular, mas não populista. Ele é "simplão" mesmo. Pra teres uma ideia, há anos que a minha esposa chama o cara de "boina", vê se pode?

Brian Johnson

Os fãs do AC/DC não querem comprar um disco e descobrir que a banda 'está misturando ritmos eletrônicos' ou 'incorporando novos elementos ao seu som'. Não! De jeito nenhum. Eles querem o AC/DC de sempre: Angus com os riffs exatamente iguaizinhos ao primeiro disco 'High Voltage', de 1975; e Brian esganiçado como um corvo. Imagine se o AC/DC gravaria uma canção chamada 'Onde as Ruas não tem Nome'. Nunca! "Como assim, 'as ruas não têm nome', cara? É só olhar na placa, seu idiota", diriam.

Os títulos das músicas do AC/DC, aliás, são tão clichês quanto todo o resto (e isso não é uma crítica): se não tem 'rock and roll', tem 'hell' ou alguma outra coisa do tipo. Se trocar os nomes, inclusive, não faz a menor diferença: 'Rock and Roll Train' e 'Hells Bells'’ poderiam facilmente ser 'Hell Train’ ou 'Rock and Roll Bell', certo? E 'Highway to Hell' poderia ser 'Highway to Rock and Roll', não? Isso não importa nem um pouco. Do contrário, como explicar 70 mil pessoas cantando: 'Estou na auto-estrada para o inferno’…?

Só sei que o AC/DC provou mais uma vez que é a banda de rock mais poderosa do mundo. O U2 mesmo já assumiu que pode ser uma banda de pop em alguns discos, assim como os Rolling Stones já lançaram 'Emotional Rescue'. Com o AC/DC não tem essa de balada com violãozinho, não tem sons pré-gravados, nem 'climas'. Tem sim uma influência de blues, mas o lance todo é o rock and roll puro, visceral e no volume mais alto possível. O clichê é intencional, sim.

E viva o Rock and Roll!  E viva o AC/DC!  YEAH!!!

 
Show ACDC - 69 Show ACDC - 70
 

Vídeos do Show em Buenos Aires: AQUI

Fotos do Show em Buenos Aires: AQUI

2 comentários:

Unknown disse...

Ufa, não há muito o que dizer depois dessa tua narrativa, Pedroso.
Apenas que, mesmo para aqueles que não conhecem o AC/DC de forma tão aprofundada, mas gostam do som, e, mais do isso, respeitam a história da banda, fico feliz em descobrir que a verdadeira essência continua por aí, em qualquer canto do planeta, representada pela "fúria" do AC/DC.
Felizardos vocês

Anônimo disse...

Fala Dahlke!
Cara, foi o melhor show que eu já assisti...
Os caras ao vivo são fodão!
Abraço