Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro

Posted by Anônimo On 11 de out. de 2010 0 comentários

Tropa de Elite 2

No último final de semana tive a oportunidade de assistir o tão aguardado Tropa de Elite 2, e a pergunta era: será que a continuação do filme conseguirá ser tão bacana quanto o primeiro? Eu arrisco: não é só tão bom quanto; é melhor, mais intenso, mais urgente, mais incendiário, mais brilhante. Não é uma continuação feita por dinheiro: é uma necessária resposta àqueles que taxaram Tropa 1 como fascista e retrógrado. Se no primeiro filme tínhamos uma tese, aqui temos uma antítese e, talvez, uma síntese.

Tropa de Elite 2 é simplesmente sensacional. Em todos os sentidos, é maior do que o seu predecessor. Além de mais empolgante, é mais complexo, elaborado e aumenta a mítica em torno dos seus personagens -- especialmente o Capitão (agora Coronel) Nascimento. É bom não comentar muito a história: basta saber que Nascimento começa o filme como comandante do BOPE, sendo retirado do posto e colocado num cargo executivo dentro da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro. Lá, se envolverá com a política local e acompanhará o nascimento das milícias armadas nas favelas cariocas.

Esta sinopse aparentemente simples não dá conta da complexidade da história. Como numa espécie de ópera, cada novo acontecimento na narrativa deixa o filme mais tenso, ao ponto de torcermos desesperadamente pelos mocinhos e odiar profundamente os (muitos) vilões.

O prólogo intrigante que abre Tropa 2 já escancara o sentimento de urgência que vai num crescendo poderoso e inexorável até o seu final. Após os créditos com cenas do filme anterior, caímos num primeiro ato absolutamente intenso, que mostra uma rebelião em Bangu 1. Estes primeiros 20 e tantos minutos servem apenas de preparação para a trama de fato (o surgimento das milícias), mas é essencial para estabelecer o tom e o clima do filme.

O que nos é apresentado a partir daí é uma daquelas sagas de combate ao crime que faz o espectador ficar na ponta da cadeira, num sentimento de torcida e indignação insuperáveis. Acredito que jamais tenha havido no Brasil um filme que tratasse desta forma a luta heroica contra a criminalidade em todos os escalões da sociedade.

O filme inteiro gira ao redor de Nascimento, por quem somos brindados com uma interpretação inesquecível de Wagner Moura. Se ele já transformara o policial truculento de Tropa 1 num dos grandes personagens do nosso cinema, aqui ele o eleva a um dos maiores heróis (ou anti-heróis). Moura faz um Nascimento que começa a ficar consciente de que, no fim das contas, ele é parte do tal "sistema" contra o qual ele afirma lutar. Esta consciência é sucedida por uma solidão que Moura interpreta magistralmente, comovendo o público de maneira única.

Aliás, solidão é a palavra de ordem do personagem. Seus atos o afastam da família, da corporação, dos amigos, da justiça, e ele se cerca de antagonistas por todos os lados. A começar pelo seu adversário ideológico Fraga (provavelmente baseado no histórico de militância do Deputado Estadual Marcelo Freixo), um professor de história que representa o contrário daquilo que o policial acredita -- e o faz com argumentos igualmente incisivos. Fraga é também, como descobrimos ainda no início da trama, um inimigo emocional do oficial do BOPE.

Por sinal, tudo que fez sucesso na película de 2007 retorna -- o policial idealista Mathias (feito por um André Ramiro mais maduro), a tortura com o saco plástico, etc. Mas estes elementos familiares são dispostos inteligentemente no decorrer da história, nunca de maneira gratuita e sempre num novo contexto. Por sinal, o texto não cai na tentação fácil de tentar criar novos bordões como "pede para sair": o que importa mesmo é a força da história.

Não é necessária muita imaginação para saber que o texto de Tropa 2 distribui bordoadas para todos os lados. Ninguém é poupado no julgamento dos realizadores: polícia, governo, mídia. Pouco antes do encerramento, a conclusão final: um sobrevoo por Brasília e uma pergunta em off de Nascimento que é uma verdadeira porrada no estômago do espectador. O filme faz com que o espectador se sinta parte de todo aquele universo nem tão ficcional (como já aparece escrito na tela bem no início da projeção), num desfecho inteligente e marcante.

Eu me pergunto o que aconteceria se Tropa de Elite 2 estreasse antes das eleições do último dia 3, com uma distribuição histórica em todo o território nacional. Certamente teria colocado fogo no Rio de Janeiro -- e no país.

 

Tropa de Elite 2 - Trailer Oficial (HD)

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