Yes! Rock and Roll…

Posted by Anônimo On 13 de jul. de 2009 0 comentários

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UM POUCO DA HISTÓRIA

Há cinquenta anos nascia aquele que viria a se tornar um dos maiores ritmos musicais da história moderna (o bom e velho Rock n' Roll), amado por muitos e odiado por tantos outros. Definitivamente, foram cinco décadas muito bem vividas, quase sempre regadas a muito sexo, drogas e Rock n' Roll.

Para que o rock chegasse até aqui, não foi nada fácil, vivendo permanentemente um "romance" conturbado com a sociedade. Em algumas oportunidades foi celebrado por multidões, massacrado pela Igreja, explorado por publicitários, dissecado por historiadores, cooptado pela moda, malhado por puristas, dignificado pelos Beatles e maltratado por Bon Jovi e Simply Red. Passou por bons e maus bocados, e chegou a ser dado como morto algumas vezes.

Segundo historiadores, o marco zero do rock teria acontecido em julho de 1954, quando um caminhoneiro chamado Elvis Presley entrou no Sun Studios, em Memphis, e gravou “That’s All Right Mamma”. Que fique claro uma coisa: Elvis não inventou o rock (ele pode ser considerado o "mensageiro" que apresentou o rock ao mundo, foi o cara certo no momento certo). Antes dele, gente como Chuck Berry e Bill Halley já tocavam rock (desde o fim dos anos 40). O rock era comumente utilizado em letras de música, sinônimo de “dançar” e/ou “fazer amor”.

A tarefa de Elvis não foi fácil: a sociedade norte-americana demorou bastante para aceitar aquele branco que cantava e dançava como um negro. Se a vida nos anos 50 não era moleza para um roqueiro branco como ele, o que dizer de artistas negros como Little Richard, Chuck Berry, Bo Diddley e Fats Domino? Isso tudo num país de escolas segregadas, que ainda via negros serem linchados, etc. O simples fato de um artista negro viajar pelo país para mostrar a sua música, poderia ocasionar inúmeros problemas em relação a sua segurança.

Então quer dizer que o Rock n’ Roll é música negra? Sim! Como o blues, o samba, o hip hop, etc. O rock nasceu da escravidão e tem suas origens na migração forçada de milhões de africanos, que foram tirados de suas aldeias e jogados em terras estranhas. Todos esses gêneros musicais tem duas características comuns, herdadas da África: 1ª) a predominância de uma base rítmica constante e repetitiva; 2ª) a utilização da música de uma forma emocional e espiritual. Nas colheitas de algodão dos Estados Unidos, os escravos cantavam para celebrar sua espiritualidade e seus ancestrais (o surgimento do Blues, que será tema em um outro "post"). Também cantavam sobre as mazelas da escravidão, estabelecendo assim uma relação direta entre sua música e a realidade social. O rock herdou essa capacidade de radiografar o presente.

A SOCIEDADE DE CONSUMO E O ROCK

Após a Segunda Guerra, os Estados Unidos entraram numa fase de prosperidade, a economia cresceu e os adolescentes, que antes davam duro ajudando os pais, passaram a receber mesada. Isso criou um novo mercado, voltado unicamente para o jovem. Hollywood logo entrou na onda, lançando filmes direcionados aos adolescentes. Dois deles, O Selvagem (1954) e Rebelde Sem Causa (1955), revelaram Marlon Brando e James Dean interpretando jovens em conflito com a geração de seus pais. A rebeldia estava na moda. Daí surgiu Elvis Presley, dando voz a uma geração cansada da caretice dos seus pais.

Apesar do sucesso, muita gente previa um final rápido para o rock (o gênero era visto como uma moda passageira). No final dos anos 50, os roqueiros passaram por maus bocados: Elvis Presley foi para o Exército; Chuck Berry ficou preso dois anos por ter atravessado uma fronteira estadual com uma prostituta menor de idade; Little Richard abandonou o rock e virou pastor; Jerry Lee Lewis arruinou a carreira ao casar com sua prima de apenas 13 anos; Buddy Holly morreu em um acidente de avião. Quando o futuro do rock parecia arruinado, eis que surge "The Beatles".

A influência dos Beatles é incalculável. Musicalmente, eles elevaram o rock a um nível até hoje inigualável, estabelecendo parâmetros e modelos para toda a música pop. Suas experimentações (ver: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band) abriram novas possibilidades sonoras e ampliaram os horizontes musicais das gerações posteriores. Culturalmente, eles foram igualmente importantes…

O fim dos Beatles foi emblemático para o fim de mais uma era no rock. Havia sido talvez a banda que mais ajudara na transição entre o rock básico de letras simples dos primeiros tempos, até o rock mais complexo musicalmente e liricamente. Não mais apenas diversão e produto de consumo, o rock era definitivamente encarado como expressão artística e social. O público de rock se dividia em duas frentes: 1ª) adolescentes mais interessados nos hits (singles) de bandas teoricamente "descartáveis"; 2ª) e os jovens amadurecidos "rockers" dos primeiros tempos, em busca de experimentação, letras elaboradas, álbuns complexos, etc. Daí entraríamos nos maravilhosos anos 70 do rock (não abordarei os anos 70 nesse texto, o que será feito num "post" específico daqui uns dias)!

ROCK: DE LÁ PRA CÁ

Os Beatles são um bom exemplo da capacidade que o rock tem de se adaptar a cada época. Para entender melhor as mudanças ocorridas nos anos 60, basta olhar as fotos dos Beatles durante o período (nos primeiros anos, vestidos com terninhos idênticos e cabelos bem penteados, depois, como todos, abandonaram a inocência: os cabelos cresceram e os sorrisos deram lugar ao olhar sério e amadurecido). No fim da década, quando jovens faziam passeatas na Europa, Martin Luther King era assassinado e o conflito do Vietnã piorava, os Beatles buscaram consolo espiritual na Índia, renegando o comercialismo ocidental. A banda acabou melancolicamente, junto com uma década que começara cheia de promessas e que terminava em guerra e decepção.

Elvis e os Beatles não foram os únicos roqueiros que se tornaram símbolos de toda uma geração: Bob Dylan, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Frank Zappa, Neil Young, David Bowie, The Doors, Grateful Dead, Led Zeppelin, Pink Floyd, The Who, The Kinks, Sex Pistols, Rolling Stones, Black Sabbath, Deep Purple, Red Hot Chili Peppers, Nirvana, Pearl Jam, etc… também viraram ícones dos anos 60, 70, 80 e 90. Esses rostos passaram a representar mais que a simples paixão por uma banda ou artista: tornaram-se símbolos de um estado de espírito, de um jeito de ser e de viver.

Talvez seja essa a razão de seu sucesso. Como bem disse Gene Simmons, do Kiss: “Eu não sou Shakespeare. Mas ganhei muita grana e transei com mais de 4 mil mulheres. Tenho certeza de que Shakespeare trocaria de lugar comigo a qualquer hora”. Alguém duvida???

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O BERÇO DO ROCK

O Rock n’ Roll nasceu da mistura de cinco gêneros distintos da música americana. São eles:

Northern Band Rock n' Roll: (Espécie de versão com guitarra e baixo do som das big bands de Kansas City. O maior nome do estilo era Bill Halley "Rock Around The Clock");

New Orleans Dance Blues: (Gênero em que predominavam baladas, tendo o piano como instrumento principal. Little Richard e Fats Domino se destacavam);

Memphis Country Rock: (Também chamado de rockabilly, era basicamente música caipira branca, tocada com guitarra elétrica. A gravadora Sun, descobridora de Elvis, era a meca desse ritmo);

Chicago Rhythm and Blues: (Versão negra do rockabilly, que teve em Chuck Berry e Bo Diddley seus mestres);

Grupos Vocais: (Sem instrumentos, usavam somente o gogó, em arranjos lindos. Frankie Lymon and The Teenagers era o grande sucesso).

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OS 50 DISCOS QUE FIZERAM O ROCK N' ROLL

Quer goste, quer não, essas são algumas das obras que romperam barreiras, criaram estilos e tendências e acabaram por marcar para sempre a história do rock!!!

1. The King of Rock and Roll – The Complete 50s Masters - Elvis Presley, 1992 (Elvis em sua melhor fase, antes de entrar para o Exército e voltar mansinho);

2. Chuck Berry – Anthology - Chuck Berry, 2000 (O verdadeiro criador do Rock n’ Roll e melhor compositor entre os pioneiros do gênero);

3. The Essential Little Richard - Little Richard, 1985 (O intérprete mais explosivo do início do rock revolucionou a música com seus gritos e sua vibração);

4. The Classic Years - Motown, 2000 (Uma das gravadoras mais influentes dos anos 60, meca da soul music norte-americana);

5. Please Please Me - Beatles, 1963 (Eles chegaram como um sopro renovador e fizeram a trilha sonora perfeita para o otimismo do início dos anos 60);

6. The Freewheelin’ Bob Dylan - Bob Dylan, 1963 (O rock amadurece: pela primeira vez, as letras valem tanto quanto a música);

7. Live at The Apollo - James Brown, 1963 (O grito primal do funk, por seu maior intérprete, no templo negro da música);

8. The Who Sings My Generation - The Who, 1965 (Até então, ninguém havia feito um rock tão radical e barulhento; para muitos, o nascimento do punk);

9. Blonde on Blonde - Bob Dylan, 1966 (O atestado de maioridade de Dylan; depois disso, o rock não tinha mais desculpa para a ingenuidade);

10. Pet Sounds - Beach Boys, 1966 (Um sonho adolescente, embalado pelo pop mais perfeito e cristalino. “O maior disco da história”, segundo Paul McCartney);

11. Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band - Beatles, 1967 (Auge do experimentalismo do rock. Definiu sua geração e criou novos horizontes para o pop);

12. Between The Buttons - Rolling Stones, 1967 (Os rebeldes mostram que também têm coração);

13. Are You Experienced? - Jimi Hendrix, 1967 (Hendrix desfila todo seu arsenal: microfonia, psicodelia, distorção e um pé fincado na tradição do blues);

14. The Velvet Underground and Nico - Velvet Underground, 1967 (Inaugurou a melancolia no pop. Fez contraponto ao otimismo hippie);

15. The Doors - The Doors, 1967 (Pessimista e dark, embalado pela angústia existencial de Jim Morrison, na contramão do sonho hippie);

16. We’re Only In It For The Money - Frank Zappa and The Mothers of Invention, 1968 (Satiriza o hippismo e antecipa o fim do sonho);

17. The Village Green Preservation Society - The Kinks, 1969 (Os Kinks enxergam além de guitarras barulhentas e fazem o seu Sargent Pepper’s);

18. Kick out The Jams - MC5, 1969 (Que paz e amor nada! Neste explosivo disco ao vivo, o MC5 pregava revolução, guitarras e amor livre);

19. Live Dead - Grateful Dead, 1970 (Longas explorações psicodélicas, no melhor momento de uma verdadeira instituição californiana);

20. Black Sabbath - Black Sabbath, 1970 (Para muitos, uma brincadeira de mau gosto. Para os fãs, um disco que sepultou a inocência dos anos 60 e inaugurou o heavy metal);

21. Funhouse - Iggy Pop and The Stooges, 1970 (Blues, John Coltrane e punk: a fórmula de Iggy Pop neste verdadeiro clássico do niilismo);

22. Greatest Hits - Sly and The Family Stone, 1970 (A música negra como arma de guerra: segundo Sly Stone, a revolução só se daria com o povo dançando nas ruas);

23. Led ZepPelin IV - Led Zeppelin, 1971 (Jimmy Page e sua gangue se escondem por trás do ocultismo e fazem um clássico do hard rock);

24. Exile on Main Street - Rolling Stones, 1972 (Os Stones esquecem a pose de maus e concentram-se no que sabem fazer melhor: música sublime);

25. Ziggy Stardust - David Bowie, 1972 (Uma ópera-rock sobre androginia e extraterrestres. Bowie cria um mundo de fantasia e sonho, que inspirou o punk e a new wave);

26. Harvest - Neil Young, 1972 (Obra-prima do country rock em uma época de cantores “sensíveis”, como James Taylor e Carole King);

27. Transformer - Lou Reed , 1972 (O subterrâneo nova-iorquino, com prostitutas, traficantes e bêbados, pela imaginação mórbida de Lou Reed);

28. New York Dolls - New York Dolls, 1973 (Guitarras altas, batom e roupas de mulher: os New York Dolls confrontavam com bom humor a macheza do rock da época);

29. The Dark Side of The Moon - Pink Floyd, 1973 (Questionamentos sobre loucura e solidão, embalados pela música mais triste a chegar ao topo das paradas);

30. Ramones - Ramones, 1976 (Em contraponto ao rock “sério”, quatro desajustados cometem este pecado sonoro, sem solos nem pretensão. Nascia o punk);

31. Never Mind the Bollocks - Sex Pistols, 1977 (O conflito de gerações em forma de disco: “Somos feios, sujos e não gostamos do que está acontecendo”);

32. Talking Heads: 77 - Talking Heads, 1977 (O punk cresce e amadurece; o funk de branco do Talking Heads prova que há cabeças pensantes na geração 77);

33. Parallel Lines - Blondie, 1978 (O dia em que o punk e a new wave fizeram as pazes com o pop. Som comercial sem abdicar de seus ideais);

34. Unknown Pleasures - Joy Division, 1979 (Velvet Underground para as novas gerações: sombrio e mórbido, vê um mundo mais sem futuro que o do Sex Pistols);

35. The Specials - The Specials, 1979 (O punk inglês se mistura ao ska jamaicano, que havia anos habitava os bairros mais pobres da Inglaterra);

36. Double Fantasy - John Lennon e Yoko Ono, 1980 (Depois de passar anos fazendo discos políticos, Lennon e Yoko assumem a maturidade e gravam pelo simples prazer de criar);

37. London Calling - The Clash, 1980 (Está tudo aqui: rockabilly, reggae, ska, jazz. O grande disco que define o fim da adolescência no punk);

38. Heaven Up Here - Echo and The Bunnymen, 1981 (Grandioso demais para se encaixar em algum movimento musical, marca o amadurecimento do pós-punk);

39. Power, Corruption and Lies - New Order, 1983 (O rock abraça a música eletrônica e prova que música “de computador” também pode ter coração);

40. The Head on The Door - The Cure, 1985 (O Cure embala a morbidez no pop mais acessível e leva a melancolia às massas);

41. The Queen is Dead - The Smiths, 1986 (O rock esquece os vencedores, celebrando os desajustados, tímidos e fracassados);

42. Licensed to Ill - Beastie Boys, 1986 (Três espertalhões juntam rap e heavy metal e criam música negra para jovens brancos);

43. The Joshua Tree - U2, 1987 (O U2 ressuscita o rock político – e os fãs, apolíticos, compram sem perceber a intenção);

44. Daydream Nation - Sonic Youth, 1988 (Os intelectuais da guitarra fazem uma perfeita radiografia de uma geração sonada pela MTV e pelo rock comercial);

45. It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back - Public Enemy, 1988 (Um libelo contra a manipulação da mídia, o “embranquecimento” da América de Reagan e o racismo);

46. Out of Time - R.E.M., 1991 (Rock de gente grande, com ambição e propósito, apesar do lustro pop e do imenso sucesso comercial);

47. Metallica - Metallica, 1991 (Representou, para a geração MTV, o que Black Sabbath foi para os jovens em 1970: a celebração da negação);

48. Nevermind - Nirvana, 1991 (O dia em que o punk encontrou a MTV: um disco que destruiu barreiras e que tornou obsoleto todo o rock vagabundo do fim dos anos 80);

49. BloodSugarSexMagik - Red Hot Chili Peppers, 1991 (Fãs de Korn e Limp Bizkit vão chiar, mas a verdade é que todo o funk metal e o nu metal começaram aqui);

50. OK Computer – Radiohead, 1997 (Um disco gélido, cerebral e triste, sobre a dificuldade de comunicação no fim do século. Paradoxalmente, foi um sucesso).

Fonte: The Sound of the City, de Charlie Gillett (Souvenir Press, EUA,).

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