Ontem assisti o filme "Antichrist", do excelente diretor dinamarquês, Lars von Trier. Já aviso desde já, o filme é forte, aliás, fortíssimo!!!
Em Anticristo (Antichrist), Lars von Trier deixou de lado a sua crítica aos EUA, excluiu por alguns instantes da sua mente o famoso movimento Dogma 95, assim como a sua "naturalidade". Apesar de ser difícil a categorização do filme, posso dizer que Anticristo é um suspense psicológico (muito pouco convencional). O filme estreou nos cinemas brasileiros no final do mês passado, e desde então tem colecionado polêmica, aliás, polêmica é um território onde von Trier transita com muita destreza.
Apesar do diretor deixar de lado suas abordagens políticas, a ironia é a mesma de sempre: a mais cruel e refinada, com direito a cenas de mutilação genital, sexo explícito e a polêmica questão relacionada a existência de Deus! É justamente munido desse sarcasmo, que von Trier apresentou o filme nas coletivas em Cannes, auto-intitulado "o melhor diretor do mundo". Diante das insistências para que explicasse o filme, foi vago nas respostas e soltou farpas como:
"eu não me preocupo com a audiência quando faço um filme!"
&
"foi Deus que me fez escolher essa história e realizar esse filme"
O Filme
Como de costume, o cineasta dinamarquês dividiu seu filme em capítulos: "Luto", "Dor (Caos Reina)", "Desespero (Genocídio)" e "Os Três Mendigos", além de trazer um prólogo e um epílogo. A história do filme, retrata um casal (o interessante é que os nomes não são citados em nenhum momento) que se refugia numa floresta isolada, ironicamente chamada de Jardim do Éden, após a morte de seu único filho.
A atriz Charlotte Gainsbourg, interpreta magnificamente uma escritora totalmente entregue à dor da perda, assim como Willem Dafoe, interpreta um psicanalista que utiliza determinada terapia (abordada da maneira mais irônica a esse tipo de tratamento) para ajudar a esposa. O casal já envolto pela vastidão da natureza (o vegetal, o animal e principalmente os instintos humanos), se misturam numa saga bíblica que mexe com a moral e os valores sociais estabelecidos.
O cineasta obtêm a partir da interpretação de Charlotte Gainsbourg, uma personagem no seu estado mais frágil, e a transforma num retrato visceral, que de tão animalesco soa pornográfico (sem nenhum exagero). A premissa poderia ser: "e se a natureza fosse criada pelo anticristo?".
A fotografia
Diferente da proposta de seus outros filmes, com a câmera no ombro e imagem o mais natural possível (herança do movimento Dogma 95), em Anticristo, von Trier investe na estética. A bela fotografia impressiona desde a poética abertura, rodada em preto e branco, em câmera lenta (onde o casal faz sexo, de forma ardente e intensa), no mesmo momento em que seu pequeno filho sai do berço, se aproxima da janela, e despenca prédio abaixo. A música de fundo, neste prólogo, compõe uma das mais belas cenas que presenciei nos últimos tempos...
O término após o "final"... Uma ironia?
Encerrado o filme, uma tela preta (pouco mais de dois segundos), apresenta a seguinte frase: "Dedicado a Andrei Tarkovski (1932 a 1986)". Depois do bombardeio de metáforas antissemitas, a impressão que dá, é de um tremendo sarcasmo despudorado, já que o famoso cineasta russo tem na sua cinematografia um forte compromisso com o sagrado.
Lars von Trier é filho de ateus, e desde os 12 anos, é admirador de "O Anticristo" (manifesto anticristianismo de Friedrich Nietzsche), a partir daí, conseguimos "entender" alguns elementos importantes do seu brilhante trabalho na direção do filme.
Pra finalizar esse post, tenho certeza que von Trier sabia exatamente o que fazia quando não quis explicar o filme nas entrevistas que concedeu... na verdade, não há necessidade de se explicar uma obra!
Seguindo nessa mesma linha, recomendo a vocês que assistam ao filme, pois, Anticristo não é um filme para ser explicado, ele precisa ser assistido!
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